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Entrevista Silvio Guatura Romão

Entrevista Silvio Guatura Romão

Produção brasileira de bananas: do Vale do Ribeira para o mundo

Por Bernardo Arnaud – Co-fundador da AMD AGRO

Para a série de bate-papo do blog “Agricultura Sustentável Tropical” da AMD AGRO, com personalidades do agronegócio brasileiro, eu tive o prazer de entrevistar o patriarca da família Romão, o médico radiologista e agricultor Silvio Guatura Romão.

Ele é proprietário da Fazenda Univale, localizada na região do Vale do Ribeira (SP), que produz bananas com técnicas de boas práticas agrícolas, visando à sustentabilidade da produção em si e do meio ambiente, e comercializando uma fruta de altíssima qualidade tanto no Brasil quanto no exterior. Confira a entrevista!

Bernardo Arnaud – Conte-nos um pouco sobre como você e sua família começaram no agronegócio e como construiu a Fazenda Univale.

Sílvio Romão – Grande produtora de bananas na região do Vale do Ribeira, Estado de São Paulo, nossa fazenda – a Univale – é rodeada pela Mata Atlântica, uma localidade bem servida de rios e clima ameno no inverno.

Nós produzimos bananas de qualidade em equilíbrio com a mata, respeitando as leis ambientais, dentro de seus mais de 700 hectares, no bairro Guaraú, zona rural do munícipio de Jacupiranga.

O Rio Guaraú dá nome à região onde a Mata Atlântica é bem preservada, exuberante em suas características, com árvores de grande e médio porte, produzindo sombra e umidade, além de abrigar uma diversidade da fauna e flora.

De propriedade dos Romão há 33 anos, nossa propriedade rural é comandada por mim e pelo meu filho Augusto Romão. Também somos médicos radiologistas e pertencentes à quarta e quinta geração de agricultores. Nossos antecessores vieram da Itália.

Eu me formei na Universidade Estadual Paulista (Unesp – Botucatu) e já estou me aposentando da Medicina, mas o Augusto continua em plena atividade. No agronegócio, somos conhecidos como “médicos rurais”, um termo concedido pela Revista Unesp Ciência.

Como profissionais da área agrícola, sempre estudamos a bananicultura no Brasil com intensidade, bem como seu mercado no País. Hoje, nós investimos em uma espécie de “agricultura baseada em evidências”.

Em nossa fazenda, contamos com a assistência técnica permanente do engenheiro agrônomo José Carlos de Mendonça, que adota todos os padrões técnicos da bananicultura moderna, o que leva a Univale a sempre aplicar boas práticas agrícolas.

O resultado de todo nosso trabalho foi reconhecido com a conquista da Certificação Global G.A.P., há quatro anos. Essa certificação, que existe desde 1997, tem como propósito incentivar e garantir a prática de uma agricultura segura e sustentável.

Gestão é a palavra-chave em todos os processos e procedimentos da Univale que, atualmente, está em fase de migração agroecológica de produção, iniciada em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por meio do Programa de Bioinsumos.

Nosso intuito é melhorar a microbiota do solo e reduzir a utilização de produtos químicos.

Outro resultado dessa evolução envolve as vendas dos produtos da Fazenda Univale para o mercado externo. Estamos exportando o valor e o sabor da nossa Mata Atlântica para o mundo conhecer, produzindo bananas com qualidade e sustentabilidade.

Bernardo Arnaud – Você é conhecido por produzir e embalar frutas homogêneas e de altíssima qualidade tanto para o mercado interno quanto para exportação. Que tipo de manejo utiliza em suas plantações de banana? Faz uso de insumos biológicos e minerais?

Silvio Romão – Há 11 anos, a Univale trabalha em ambiente certificado, considerando que conquistamos a Certificação Global G.A.P., de olho no mercado exigente de exportação.

Todos os passos na bananicultura precisam ser tratados com muita técnica, desde a preservação do meio ambiente, levando em conta que nossa vizinha ilustre é a Mata Atlântica, cuja biodiversidade protege a cultura de pragas e doenças, conforme foi demonstrado em pesquisa recente do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

A bananeira merece especial atenção para seu bom desenvolvimento e para constituir uma família saudável de “mãe, filha e neta” e, com isso, obtermos o melhor ciclo da cultura.

Nossa produção envolve, literalmente, o manejo do cacho, pois a banana é uma fruta de pele delicada e precisa ser protegida desde seu lançamento.

Quem compra nossa fruta é atraído por sua aparência e beleza, características que irão compor as fruteiras e alimentar as famílias.

Bernardo Arnaud – Quais são os riscos fitossanitários da praga agrícola Fusarium R4T para a bananicultura no Brasil?

Silvio Romão – O tema de raça 4 tropical de Fusarium é bastante complexo. Fusarium R4T é, sem dúvida, a maior ameaça fitossanitária da cultura da banana, não só no Brasil, mas no mundo.

Todas as áreas de produção de bananas têm participação de pequenos produtores, em nosso País, o que torna difícil a implantação de barreiras fitossanitárias e normas de biossegurança, por causa das características próprias do pequeno produtor.

A bananicultura brasileira de fruta fresca depende, em sua totalidade, de variedades que são altamente suscetíveis a essa doença. As variedades Nanica, Nanicão, Gran Naine, William, Prata, Maçã, entre outras, são suscetíveis ao Fusarium R4T. Esse dado, por si só, dá uma ideia do nível de vulnerabilidade da bananicultura nacional a esse problema.

Em termos de capacidades técnicas, de certa forma, nós somos privilegiados por contar com o trabalho de pesquisadores, que têm trabalhado para melhorar esse cenário, desde 2008. O primeiro método de diagnóstico do patógeno, por exemplo, foi desenvolvido, em colaboração com a Holanda, pelo pesquisador brasileiro e doutor em Fitopatologia, o engenheiro agrônomo Dr. Miguel Angel Dita Rodriguez.

Ainda foi elaborado um Plano Nacional de Contingência pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que está sendo implementado.

Todos esses processos tiveram o apoio desse pesquisador, que hoje está na Colômbia coordenando a estratégia regional contra o Fusarium R4T. O Dr. Miguel Dita – que é sênior cientista da Alianza Bioversity International and CIAT, na Colômbia – é parceiro da Univale há vários anos, desenvolvendo conosco várias pesquisas.

Ao conversar a respeito desse tema, ele ressalta que, “para um país de características continentais como o Brasil, com muitas fronteiras, em termos de entrada de novas pragas e doenças, somos extremamente permeáveis”.

Ele continua explicando que “o nível de vulnerabilidade para o Fusarium R4T é extremadamente alto”. Mas a pergunta pode não ser se essa praga vai entrar no Brasil ou não, mas quando e por onde.

Para o Dr. Miguel Dita, “nós temos bananas de Norte a Sul do País e com milhares de pequenos produtores, mas a grande maioria não tem capacidade para enfrentar uma praga como essa”.

O pesquisador faz uma análise simples, resumindo a situação em três riscos:

  1. Risco de entrada: MUITO ALTO;
  2. Risco de que a praga entre e não seja identificada oportunamente: MUITO ALTO;
  3. Riscos de que se dissemine pelo Brasil, uma vez que entre: também MUITO ALTO.

“Na ausência de variedades não suscetíveis, todos os esforços devem ser encaminhados à exclusão (para que a praga não entre em território brasileiro). A ideia é ‘comprar tempo’, até que tenhamos melhores condições de manejar essa praga”, alerta Dr. Miguel Dita.

Bernardo Arnaud – Quais aspectos humanos são mais relevantes para manter o nível de qualidade sempre alto e homogêneo da produção de bananas da Fazenda Univale?

Silvio Romão – Nossa capacitação profissional é fundamental para a qualificação da mão de obra, em uma cultura cada vez mais tecnificada, como é caso da bananicultura. As exigências do mercado são crescentes por qualidade e segurança alimentar o que, para nós, é um permanente desafio.

O elemento humano é o elo mais importante dessa cadeia e nosso foco é capacitá-lo e valorizá-lo na atividade, bem como sua família, a partir de programas de preservação ambiental, uso adequado dos recursos naturais, reciclagem do lixo doméstico, redução do consumo de energia elétrica, entre outros.

Os programas da Univale incentivam, por exemplo, as crianças a trazerem embalagens recicláveis para nosso ponto de recolha, onde são fotografadas com os pais e recebem alguma bonificação como doces, refrigerantes e pequenos brinquedos.

Bernardo Arnaud – O que você tem usado, nas bananeiras de sua propriedade rural, de insumos biológicos e minerais?

Silvio Romão – Pelo Programa de Migração Agroecológica, orientada por pesquisadores da Embrapa e do IAC, a Univale tem optado por produtos como o fungo Beauveria bassiana para controle da broca; extrato de Melaleuca para controle da Sigatoka Negra; além de bionematicidas e matéria orgânica industrializada.

Também utilizamos formulações de NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio) com altas concentrações de K e aplicações de micronutrientes via solo e via foliar. Em relação ao Programa de Bioinsumos da Embrapa, ele terá início nos próximos meses em nossa fazenda.

Após a migração agroecológica, nossa meta final é ter uma “produção verde” de bananas, adotando o termo “Univale Verde” para denominar essa nova fase da fazenda.

Bernardo Arnaud – Você acredita que a banana seja mais valorizada no Brasil ou em países que precisam importar a fruta, de maneira geral? E no Vale do Ribeira, ela é um dos carros-chefes em pratos de restaurantes?

Silvio Romão – A banana é uma fruta maravilhosa e socialmente acessível, considerando que todas as classes econômicas podem consumi-la. Acredito que seja a fruta que mais se associa em combinação com outros alimentos, como chocolates, cremes, farinhas, carnes de todas as variedades e doces. Ela é, certamente, a “coringa das frutas”.

Temos, além disso, várias formas de consumo: frescas, cozidas, assadas, grelhadas, etc. Nutricionalmente falando, é uma fruta saudável, que contém muitas fibras e amido resistente em sua composição, o que a torna uma presença importante na alimentação em qualquer hora do dia e por pessoas de todas as idades.

Bernardo Arnaud – Você já pensou em abrir sua própria agroindústria de banana e beneficiar parte da sua produção em formato de chips, compotas, farinha de banana verde e outros produtos, que já são comuns na África e na Ásia, mas ainda pouco conhecidos no Brasil?

Silvio Romão – A agroindústria da banana tem feito banana chips, banana desidratada, banana passa, compotas, biomassa de banana e farinha de banana verde. Todas elas têm muitas utilidades.

Estamos estudando esse mercado e desenvolvendo um trabalho com a banana liofilizada, tanto a fruta em rodelas quanto em farinha liofilizada. A liofilização é um processo que permite preservar todos os nutrientes da banana.

O Vale do Ribeira também está desenvolvendo, com o auxílio técnico do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os seguintes programas:

* Culinária Regional: o ingrediente principal é a banana, até por representar 80% da atividade econômica do Vale do Ribeira;

* Indicação Geográfica: assim que conquistarmos a certificação de IG, vamos poder demonstrar as peculiaridades da produção de bananas das terras baixas do Estado de São Paulo, que possuem altitude média de 30 metros, estão em região subtropical com muitas águas, terras férteis e envoltas pela Mata Atlântica – um cenário sem igual no território brasileiro.

Bernardo Arnaud – Quais são as perspectivas, em 2021, para a parceria da UNIVALE e da LENTIA Trading para exportação e distribuição da banana da sua fazenda para o mercado europeu e norte-americano?

Silvio Romão – A Univale tem como certa sua internacionalização, em parceria com a Lentia Trading, reunindo profissionais com alta expertise em suas atividades e levando, aos exigentes mercados europeu e norte-americano, uma fruta de altíssima qualidade.

Merece ressaltar que, além do fato de estar em região subtropical, o Vale do Ribeira minimiza o uso de produtos para controle de pragas e doenças, em relação a outras localidades produtoras mais próximas da Linha do Equador.

Essa combinação de pontos favoráveis abrirá um caminho exitoso à Univale-LENTIA Trading.

Para mais informações sobre a Fazenda Univale, bem como sua produção de bananas, acesse http://bananasunivale.com.br.

Tangará da Serra – MT, 2 de julho de 2021

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